Grande negociador no mercado global de alimentos como carne, soja e outras commodities agrícolas, para cuidar de sua população de mais de 1,4 bilhão de habitantes, a China tem, cada vez mais, incorporado à sua lista de compras um item prioritário: sustentabilidade . Os caminhos para entender essa demanda foram em discussão na manhã de terça-feira, 30 de abril, no Seminário “Brasil – China Exportações de Soja e Carne: Rotas para a sustentabilidade”, que teve, entre os debatedores, o diretor de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Fernando Sampaio.

O evento foi realizado no Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), tendo como realizadores o Observatório de Bioeconomia, o IAED e a ONG The Nature Conservancy (TNC).

De acordo com Fernando Sampaio, a discussão que predominou no seminário foi sobre a demanda chinesa por commodities e o impacto dessa produção em relação à questão climática. “A pergunta é se o Brasil consegue atender essa demanda de forma sustentável”, apontou o diretor, que participou, via internet, de uma mesa-redonda, juntamente com a diretora de Sustentabilidade da JBS, Liege Correia e o gerente de Política Pública do Imaflora , Marina Guyot, com moderação do pesquisador FGV Agro, Leonardo Munhoz.

 Motor

Para Sampaio, a China tem um peso muito grande no mercado de exportação brasileiro, de forma geral, e esse mercado é um motor para intervenções a eficiência na produção no Brasil. “Os aumentos de produtividade e eficiência que ocorreram na cadeia produtiva da carne bovina, no Brasil, nos últimos anos, só aconteceram porque foram inseridos no mercado global”, diz o diretor. Só no primeiro trimestre de 2024, a China roubou em torno de 271 mil toneladas de carne brasileira, o que representou uma receita de cerca de US$ 1,2 bilhão. Esses recursos permitem que o Brasil fortaleça ainda mais suas ações de crescimento sustentável.

Durante o evento, foram apresentados os resultados de trabalhos, como a pesquisa realizada em parceria pela Academia Chinesa de Ciências Sociais e FGV Agro, com apoio da TNC. Os consumidores da amostragem foram entrevistados em Pequim e Xangai, e os dados coletados apontaram que o consumidor chinês está disposto a pagar mais pela carne do Brasil, se houver a garantia de que ela não está associada ao desmatamento na Amazônia.

“As pessoas pensam que o consumidor chinês aceita tudo, e não leva em conta a sustentabilidade, mas isso não é verdade. A demanda está lá, e, ainda que não se traduza na gôndola, neste momento, certamente, esse dia chegará”, ponderou, acrescentando que, por causa disso, não faz sentido criar barreiras ao comércio, porque é justamente o mercado que vai modelar essa demanda e assegurar estes avanços.

“Isso nos permite projetar uma maneira de usar o poder do comércio para impulsionar a sustentabilidade da produção. A China é um exemplo claro. Eles têm uma exigência para o Brasil que é ter um boi que tenha menos que trinta meses de idade. Essa simples exigência já impulsionou a produção, porque o produtor precisa investir em tecnologia para produzir esse animal, reduzir o ciclo e, consequentemente, as emissões e impacto ao meio ambiente”, diz.

Ainda na visão do diretor da Abiec, a questão do desmatamento, de fato, precisa ser tratada no Brasil, principalmente, nas questões ligadas à legalidade. “O país precisa avançar dentro de casa, com o Governo exercendo seu papel no controle da ilegalidade e nos processos de regularização, e a cadeia produtiva atuando na rastreabilidade, no controle da origem”, finaliza.


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