De 2001 a 2023, o Brasil aumentou sua produção de grãos em mais de três vezes, passando de 100 milhões para mais de 300 milhões de toneladas de grãos na safra 2022/23, mesmo com dificuldades climáticas na região sul observadas nos últimos dois anos. “Os incrementos de produtividade foram, em média, de aproximadamente 2% ao ano nesses últimos 20 anos”, analisa o  segundo vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (ABRATES), engenheiro agrônomo Geri Eduardo Meneghello, doutor em Ciência e Tecnologia de Sementes, na Universidade Federal de Pelotas.

O aumento na produção de grãos nessas últimas décadas foi impulsionado por avanços tecnológicos e ganho genético de cultivares mais adaptadas, colocando o Brasil entre os principais players do agronegócio.

O segundo vice-presidente da ABRATES destaca a  importância das sementes de alta qualidade como ferramenta para a disseminação das inovações nas propriedades rurais, abrangendo não apenas grãos, mas também setores como forrageiras, olerícolas, medicinais e ornamentais.

“A demanda por sementes de qualidade está aquecida, tanto no mercado interno quanto externo. Quem conseguir produzir sementes de qualidade em escala, respeitando o arcabouço legal, certamente terá um diferencial competitivo”, diz Geri, lembrando que, em função da importância que a semente possui para a agricultura, órgãos internacionais como a FAO implementam ações visando fortalecer o desenvolvimento do setor sementeiro, sobretudo em países subdesenvolvidos.

Além da introdução de novas sementes, caracterizadas por um potencial produtivo aprimorado, resistência a pragas e doenças, bem como adaptação a distintas regiões, o engenheiro agrônomo cita o apoio da inteligência artificial (IA), que emerge como um catalisador fundamental para impulsionar os esforços de pesquisa.

Essa tecnologia, entre vários outros avanços do setor de sementes, vai nortear as discussões do XXII Congresso Brasileiro de Sementes (CBSementes), que ocorrerá em setembro de 2024, em Foz do Iguaçu (PR).  O CBSementes é o principal evento técnico-científico voltado ao setor sementeiro do Brasil, que direciona  tendências e apresenta novas tecnologias.

A edição de 2024 concentrará suas discussões na temática da comercialização de sementes, ampliando a visão para além das grandes culturas como soja e milho, abrangendo espécies florestais e nativas. O objetivo é fortalecer cada vez mais o setor, maximizar esforços e ampliar as possibilidades de comercialização. Certamente todos ganham se o objetivo for alcançado”, afirma Geri

O uso da  Inteligência Artificial (IA), entre outras tecnologias e  inovações terão espaço garantido no debate. “A inteligência artificial (IA)  tem sido amplamente debatida pela sociedade. É inegável que com essa tecnologia é  possível analisar grandes quantidades de dados, executar tarefas de maneira mais eficiente, identificar padrões e resolver problemas. “A IA está melhorando o desempenho e a produtividade das empresas, automatizando processos ou tarefas que antes exigiam energia humana”, resume.

No entanto, Geri Meneghello observa que  é fundamental que a IA seja uma ferramenta auxiliar e não que decisões importantes sejam tomadas alicerçadas apenas em um direcionamento gerado por um algoritmo. “Quando trabalhamos com sementes estamos trabalhando com um ser vivo e como tal algumas nuances precisam ser analisadas com profundidade levando em conta características da espécie, eventuais condições de estresse na fase de campo, características do ambiente de armazenamento para citar apenas alguns exemplos. Algumas destas características guardam uma margem de subjetividade”, pondera Geri.

Desafios do setor - O CBSementes também é um espaço para discutir os desafios e as oportunidades para o mercado de sementes, considerando os aspectos técnicos, econômicos, sociais e ambientais.

De acordo com o doutor Geri Meneghello, o mercado sementeiro oferece oportunidades, mas também enfrenta vários desafios, como produzir sementes de qualidade em quantidade.

“Esta é uma dificuldade técnica especialmente importante para aquelas espécies cultivadas em larga escala. É uma dificuldade, mas plenamente possível de ser superada visto o profissionalismo que o setor tem implementado de forma mais intensa a cada ano”, enfatiza.

Outro grande desafio, na opinião dele, é a concorrência desleal com quem atua à margem do sistema, ou seja, produzindo e comercializando sementes de forma ilegal, praticando pirataria. “É algo de difícil solução e que provavelmente precise ser utilizado diferentes estratégias desde maior fiscalização, adoção de penalidades, chegando até a conscientização por parte dos usuários”, opina Geri. O especialista compara essa situação citando o mercado musical, que passou por uma transformação profunda nos últimos anos, graças ao uso de ferramentas de streaming que oferecem acesso fácil e barato a milhões de músicas. “Hoje, pessoas optam por utilizar esta ferramenta ao invés de produtos piratas. É um caso a ser estudado”, exemplifica.

Legislação – A legislação de sementes é outro tema em constante discussão nos eventos da ABRATES. O papel da Lei 10.711 de 2003 e seu recente decreto 10.586 de 2020, tem papel essencial na consolidação do reconhecimento e segurança para as sementes brasileiras.  “Os padrões, normas e controles, se executados seguindo os critérios legais oferecem aos consumidores garantias mínimas de qualidade. Temos empresas dotadas de infraestrutura e equipes técnicas plenamente capacitadas e um arcabouço legal robusto que permite competitividade”, afirma.

“Desde que passou a vigorar em 2004 uma série de inovações tecnológicas foram implementadas, como a consolidação do uso de eventos biotecnológicos (transgênicos)”, acrescenta Geri.

Segundo ele, o congresso Brasileiro de Sementes é uma oportunidade para divulgar os resultados das pesquisas realizadas no país e no exterior, bem como para trocar experiências e estabelecer parcerias entre os diferentes atores envolvidos no setor sementeiro. “A participação de todos é fundamental para o fortalecimento do setor e para o desenvolvimento da agricultura brasileira”.

Redação/foto: Da Magrinha

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