Produtor rural do Mato Grosso passa a ganhar dinheiro por preservar meio ambiente
O Brasil vem registrando uma proliferação de mecanismos de financiamento a produtores rurais ou donos de terras no interior do país para preservarem o meio ambiente. A tendência se acentuou nos últimos anos com um maior olhar de governos, empresas e da sociedade em relação ao tema. Em 2021, o governo federal regulou o mercado de CPR Verdes, uma cédula de produto rural que permite o pagamento por parte de instituições aos donos de terra por implementar políticas como manutenção da vegetação nativa e reflorestamento. A cédula é utilizada tradicionalmente para financiar a entrega de produtos agr de produtos agropecuários, como o milho.
Na região Norte de Mato Grosso, o produtor rural José Soares, 65 anos, tem recebido dinheiro por preservar aproximadamente 40% de suas terras. Anualmente, ele recebe pagamentos provenientes da venda das Cédulas de Produto Rural (CPR Verde). Em 2021, o governo federal regulamentou o mercado de CPRs Verdes, uma cédula de produto rural que permite que instituições paguem aos proprietários de terra por implementar políticas como a manutenção da vegetação nativa e o reflorestamento.
Essas CPRs Verdes são adquiridas por empresas com o objetivo de compensar suas emissões de gases de efeito estufa e fortalecer seu compromisso com a sustentabilidade ambiental. O processo ocorre da seguinte maneira: o produtor rural gera várias Unidades de Conservação (UCs) ao longo do ano, que são adquiridas pela empresa interessada em compensar suas emissões de carbono. Atualmente, o valor de mercado de uma UC é de R$ 144,34.
Soares, que deixou o Rio Grande do Sul na década de 90 para plantar grãos e criar gado em Santa Cruz do Xingu, afirma que, segundo a legislação, ele pode produzir em 60% de sua fazenda, que abrange uma área de 403 hectares. Ele tem obtido ganhos acima de R$ 300 mil por ano com colheitas e criação de animais, mas sempre buscou uma forma de rentabilizar a outra parte de sua terra.
O empresário menciona que os governos, inclusive os internacionais, por muito tempo tiveram um olhar crítico para aqueles que produzem alimentos entre o bioma amazônico e o Cerrado. No entanto, ele destaca a importância da preservação ambiental em sua propriedade. Há custos envolvidos na prevenção de queimadas, invasões e no pagamento de tributos, como o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural. No entanto, Soares afirma que nunca havia recebido qualquer compensação pelo trabalho ambiental realizado na área preservada, mas isso está mudando.
Soares estima que, se todas as UCs produzidas por ele forem comercializadas, o faturamento de sua fazenda pode atingir R$ 5 milhões por ano. No entanto, o mercado ainda está em estágios iniciais. Ele expressa sua satisfação ao pensar nas futuras gerações: "Se meus filhos e netos colherem o que estou plantando, estarei satisfeito". O produtor relata que muitos de seus vizinhos ainda não investem na produção de créditos, pois acreditam que não é financeiramente viável: "Nem todos aderiram. Aqui é tipo São Tomé: é preciso ver para crer".
O produtor rural conta que teve que fazer um investimento
significativo para determinar o valor dos créditos de suas terras, mas já
recuperou 100% desse investimento. Agora, tudo o que vier é lucro. Ele aguarda
uma nova medição para saber quantos créditos tem as terras dele. “Aqui eu
consegui ampliar as apps (áreas de preservação permanente) e as árvores estão
‘mais grossas’. Meu crédito vai aumentar. Ninguém mais desmatou a partir do
momento em que virou crédito. Todos apostaram em aguardar um resultado
definitivo nas negociações”, afirma.
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