Setor pecuário vê perspectivas de crescimento nas exportações para a China e melhora no consumo doméstico com recuo de inflação
O boi gordo esteve em queda ao longo da maior parte do 1º semestre de 2023, recuando de R$ 280/@ no final de 2022 para R$ 240/@ em meados de junho (valores referentes ao estado de São Paulo). Apesar do embargo chinês ter tido um impacto significativo, o principal fator responsável pela queda foi a grande oferta de animais, com destaque para o descarte de matrizes.
Olhando para o futuro, junho historicamente marca uma virada no calendário da pecuária bovina brasileira. Isso porque o grosso da produção doméstica deixa de vir dos pastos e passa a estar atrelada aos confinamentos.
Nos últimos anos, essa virada também está atrelada à abertura da janela de importação para o Ano-Novo lunar, mesmo que costume mudar o modo de atuação do importador chinês.
Particularmente em 2023, há um elemento adicional a ser considerado: o barateamento da carne bovina, que pode vir a afetar o comportamento do consumidor brasileiro. As perspectivas para o boi gordo no 3º trimestre, portanto, passam pela análise desses novos fundamentos.
Começando pela oferta, é possível que muitos pecuaristas optem pelo confinamento porque os dois principais custos dessa atividade – boi magro e milho – estão nos patamares menores desde agosto de 2020.
Entretanto, também é possível que alguns pecuaristas desistam do confinamento porque a bolsa tem indicado o boi gordo no 3º trimestre por volta de R$ 265/@, patamar baixo na comparação com os anos anteriores.
Apesar dos dois cenários serem factíveis, é pouco provável que tenha causado escassez de oferta ao longo do 3º trimestre. Apesar do boi gordo ter se desvalorizado neste último ano, o recuo do boi gordo e do milho foi ainda mais emocionante, o que contribuiu para a margem do confinador.
Além disso, muitos pecuaristas devem optar pelo confinamento porque não querem que a grande quantidade de bois magros atualmente em suas fazendas invadam por lá mais um ano e, com isso, percam o selo de animal China. Por fim, ainda existirão bons volumes de férias sendo oferecidos aos frigoríficos.
Passando para a demanda externa, a princípio este fator é altista, já que as exportações de carne bovina para a China costumam atingir um pico no 3º trimestre. Esse crescimento nas compras está relacionado à formação de estoque para o Ano-Novo lunar, feriado mais importante da China e que marca o aumento do consumo no país. Há, entretanto, ressalvas importantes.
Em primeiro lugar, os chineses estão fazendo jogo duro na hora de negociar preços, o que fez com que o valor da carne exportada para a China recuasse de US$ 7.336/ton FOB em junho de 2022 para US$ 5.255/ton FOB em maio de 2023 Além disso, o dólar está sendo negociado na casa dos R$ 4,80, menor patamar dos últimos doze meses, o que também pressionou o lucro das exportações.
Por fim, há a volatilidade das exportações para a China no setor pecuário, que podem ser suportadas inesperadamente por embargos, doenças em rebanhos, mudanças em políticas governamentais, entre outros. Por fim, a demanda interna. Existem fatores que indicam que o consumo de carne bovina pelos brasileiros aumentará em 2023 na comparação com 2022.
Entre os indicadores sanitários gerais, o desemprego está nos patamares menores desde 2015 e a estampa voltou a estar na próxima da meta. Já entre os indicadores específicos da pecuária, destaque para a desvalorização da carne bovina no varejo, fenômeno que tornou essa proteína mais competitiva. Comparando maio de 2023 com maio de 2022, a carne bovina teve desvalorização de 5,2%; por outro lado, a carne suína inflacionou 4,8% e a carne de frango desvalorizou apenas 1,7%. Entretanto, mais uma vez as ressalvas precisam ser feitas.
O cenário acima descrito está presente no mercado desde o início do ano. Mesmo assim, não haveria períodos em que a demanda doméstica fosse capaz de sustentar os preços do boi. Isso porque o crescimento da oferta está sendo superior a esse crescimento na demanda interna. Sendo assim, a expectativa para o 3º trimestre é que a demanda interna não tenha força para suportar grandes vitórias na arroba do boi gordo.
Feita a análise dos fundamentos de oferta, procura externa e procura interna, infere-se que o cenário mais plausível para o 3º trimestre é o de um crescimento nas exportações e no consumo doméstico, se contrapondo a um bom volume de oferta. É necessário ficar atento, entretanto, ao comportamento da China, dos confinadores e dos consumidores domésticos, que pode vir a ser diferente do cenário traçado acima.
Fatores Altista
Perspectiva de crescimento no volume de exportação para a China;
Recuo no desemprego descontrolado e barateamento da carne bovina aspirada para uma melhoria no consumo doméstico;
Baixo patamar do boi gordo podendo desencorajar o confinamento.
Fatores Baixistas
Ano de expansão de oferta no ciclo da pecuária;
Baratamento do milho e do boi magro incentivando o confinamento;
Os chineses estão pagando valores menores pela carne brasileira.
Redação/foto: Portal Agropecuário
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