A cotação do trigo, em Chicago, considerando o primeiro mês cotado, subiu fortemente nesta semana e o consumo a US$ 7,39/bushel no dia 22/06, o mais alto valor nos últimos quatro meses, contra US$ 6,61 uma semana antes. O clima ruim, que provoca perdas importantes nas lavouras tritícolas dos EUA, está na origem dessas altas. Até o dia 18/06, por exemplo, o trigo de inverno, naquele país, apresentava 15% da área já colhida, contra 20% na média histórica para os dados. por sua vez, das lavouras a serem colhidas, 38% apenas se mostraram com boas condições excelentes, 33% estavam regulares e 29% entre ruínas a muitas ruínas. Já o trigo de primavera apresentou 98% de sua área com germinação, enquanto as condições das lavouras estavam com 51% entre boas a excelentes, 37% regulares e 12% ruínas a muitas ruínas.

Na prática, uma série de secas poderá provocar uma pior safra de trigo nos EUA, dos últimos 60 anos. Os mais pessimistas apontam que cerca de um terço do trigo de inverno, cultivado em todo o país, pode ser abandonado porque não é economicamente viável colhê-lo neste ano. É a maior taxa de abandono desde 1917, superando a taxa de trigo ignorada durante os anos de 1930, quando ocorreu uma tempestade de areia que consumiu os EUA. Lembrando que o país está entre os cinco maiores exportadores globais do cereal. Por outro lado, mais da metade do trigo duro vermelho de inverno no Kansas, maior produtor de trigo de inverno dos EUA, está em condições ruinas ou muito ruinas (cf. USDA).Há trigo de inverno suficiente para o consumo interno, mas as condições voláteis do mercado mundial motivaram os moinhos dos EUA a iniciar a importação de trigo para farinha, de forma que o impacto para os agricultores do país é grande. Estados como Oklahoma e Texas, ainda devem abandonar maiores áreas do que o Kansas.

O baixo rendimento norte-americano é somado a um contexto global que inclui as continuidades da guerra entre a Rússia e a Ucrânia; um volume excedente de trigo russo e do Leste Europeu; altas tarifas cobradas para a chegada aos portos; e o dólar fortalecido, que torna as commodities cotadas na moeda dos EUA menos competitivas. Diante desse cenário, determinou os temores de que os moinhos tomem uma medida incomum de importar trigo europeu para farinha, como já tem sido feito. Chuvas recentes ajudaram a reviver alguns campos de trigo murchos, especialmente na parte noroeste do Kansas, e deram esperança de que o milho e soja, recentemente plantados, venham a florescer. Mas para muitos lugares, as chuvas de maio e junho ainda não foram suficientes.

Pelo lado da Rússia, as previsões para a nova safra de trigo 2023/24 foram revistas para baixo, ficando agora em 86,8 milhões de toneladas, contra 88 milhões anteriormente e contra 92 milhões no ano anterior. Já a colheita de trigo na Índia, em 2023, deverá ser, pelo menos, 10% menor do que a estimativa do governo local. Isso ocorre pelo segundo ano consecutivo, elevando os preços locais do cereal. A disponibilidade de trigo é muito baixa no mercado indiano, indicando que a produção foi de cerca de 101 a 103 milhões de toneladas, enquanto o governo calculava um volume de 112,7 milhões de toneladas, após 107,7 milhões no ano anterior. A Índia consome, anualmente, cerca de 108 milhões de toneladas de trigo. Os agricultores indianos começam a colher o trigo a partir de março, vendendo a   maior parte de sua safra para empresas estatais e comerciantes privados em junho.

Com isso, os preços do trigo em Nova Délhi saltaram 10% nos últimos dois meses, para US$ 303,00/tonelada, levando o governo a importar um limite, pela primeira vez em 15 anos, na quantidade de estoques de trigo que os comerciantes podem manter. A Índia é o segundo maior consumidor de trigo do mundo, e já havia proibido as exportações do cereal em maio de 2022, depois que um aumento repentino na temperatura local incluiu a produção, em um momento em que os embarques estavam aumentando para atender ao déficit global desencadeado pela invasão russa à Ucrânia.

E no Brasil, a futura produção de trigo deverá ser menor, mesmo que a área nacional venha a aumentar um pouco. Isso se deve ao recuo na produtividade média, devido ao clima que teremos. Já a Argentina deverá recuperar sua produção, depois do desastre do último ano, devendo colher entre 16 e 17 milhões de toneladas, havendo institutos privados esperando até 19 milhões de toneladas. Mesmo assim, os preços nacionais continuaram estáveis, com a média gaúcha fechando a semana em R$ 64,65/saco, enquanto no Paraná os preços se mantiveram em R$ 66,00.

Segundo a Conab, mesmo com uma área menor no Rio Grande do Sul, o conjunto do Brasil poderá aumentar a área semeada com trigo em 9,7% nesta nova safra, atingindo a 3,38 milhões de hectares. No entanto, a média de produtividade deve recuar 15,6%, ficando em 2.880 quilos/hectare (48 sacos/hectare). Com isso, a produção nacional de trigo, na safra 2023, ficaria em 9,7 milhões de toneladas, ou seja, 7,4% menor do que a registrada no registro de 2022. Já tenho certeza de que consultorias privadas estão avançando uma produção final de 11,3 milhões de toneladas no país, com aumento de 3% sobre o volume colhido no ano passado. Dito isso, o plantio da nova safra consumiu 60% da área esperada no país, contra 55,4% no ano passado, nesta época.O Paraná alcançou, no final da semana anterior, um 83% da área esperada, com 94% das lavouras em bom estado, enquanto 6% estavam em condições medianas. Já no Rio Grande do Sul, o plantio continua lento, devido às chuvas, sendo que o Estado deve reduzir a área em 1,52% sobre o ano anterior, gerando uma produção de 4,55 milhões de toneladas, ou seja, 14, 2% menor do que os 5,3 milhões de colheitas em 2022.

Enfim, o preço médio do frete da tonelada de trigo, no Rio Grande do Sul, aumentou 25% em relação ao ano passado. Isso se deveu, dentre outros fatores, ao forte aumento na produção do cereal, no ano passado, o que fez aumentar a demanda por frete.

Da: Redação/foto: O Presente Rural

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